Certa vez, em um curso, ouvi da obstetra Dra. Flávia Tarabini a seguinte frase: “O pós-parto é para sempre”. Essa frase ficou na minha cabeça e realmente faz todo sentido… depois que a mãe dá à luz pela primeira vez, a vida dela nunca mais será a mesma (em todos os sentidos). Questões físicas, hormonais e psicológicas. Apesar de eu nunca ter parido, acompanho essa jornada com meus três filhos… Por isso mesmo, apesar de todos os protocolos dos meus atendimentos serem baseados em evidências científicas, eu adoto na minha vida outra frase muito marcante para mim:
“Domine todas as técnicas, saiba todas as teorias, mas ao tocar uma alma humana seja apenas outra alma humana.” (Carl Jung)
Pós-parto ou puerpério o que é?
É período que decorre desde o parto até que os órgãos genitais e o estado geral da mulher retornem às condições anteriores à gestação. O puerpério é um período cronologicamente variável, de âmbito impreciso, durante o qual se desenrolam todas as manifestações involutivas e de recuperação da genitália materna após o parto. (Resende & Montenegro, 1982)
Por via de regra, completa-se a involução puerperal no prazo de 6 semanas a 8 semanas.
(SOUZA, 1999; NEME, 2000; REZENDE, 2002)
Embora seja aceitável dividir o período que se sucede ao parto em 3 estágios (NEME; 2000):
- Pós – parto imediato (do 1º ao 10º dia);
- Pós – parto tardio (do 10º ao 45º dia);
- Pós – parto remoto (além do 45° dia).
Até quando a mulher encontra-se no pós-parto?
Essa é uma questão ainda divergente na literatura, e a maioria dos autores falam que é um período “impreciso”. Avaliando questões apenas hormonais, estudos indicam que até 1 ano essa mulher ainda encontra-se no pós-parto. Se pensarmos em níveis osteomusculares, essa denominação de pós-parto pode durar muito mais tempo. Então, independente do tempo em que ocorreu o parto, enquanto houver alterações no corpo da mulher provenientes da gestação, podemos dizer sim, essa mulher ainda está no período pós-parto.
Diástase abdominal
Quanto tempo após o parto a mulher pode voltar aos exercícios?
Segundo Stoven e Marjenon, 1995, uma mulher submetida a parto vaginal, sem complicações pode retornar a atividade física imediatamente após o parto. Mas CALMA gente, não é qualquer exercício. São exercícios de respiração e ativação de abdômen. Clique aqui para ver o exercício de ativação de abdômen que utilizo nas minhas aulas para gestantes e que oriento no pós-parto
Os autores desse estudo reforçam:
“No entanto, tendo em conta que a frouxidão articular sob influência da relaxina que persiste após o parto por um período de 6 semanas a 3 meses, deixando assim as mulheres mais suscetíveis a lesões articulares, ligamentares e musculares deve-se tomar cuidado com atividades exaustivas e de alto impacto.”
Após parto cesárea, sugere-se que a atividade física seja retomada em torno de 4 semanas (QUEIROS, A.S.M;2007).
O mesmo tempo de retorno às atividades em mulheres que sofreram episiotomia ou tiveram algum tipo de laceração, pois é o período mínimo em que os tecidos estão na fase de reparo e remodelação.
No MÉTODO RPP, pelo fato de na 1ª fase do tratamento iniciarmos com exercícios respiratórios, iniciamos a recuperação funcional da puérpera com 7 dias após o parto normal e 15 dias após cesárea.
Diástase
O útero grávido em crescimento não apenas estira os músculos abdominais, como, devido a frouxidão da linha alba e dos retos abdominais separados ele pode deixar um espaço de mais ou menos 1 a 3 cm entre os dois ventres do músculo reto abdominal no final da gestação, chamado de DIÁSTASE. No Pilates na gravidez, os exercícios são voltados para que essa diástase não vire patológica.
Ainda não temos diretrizes suficientes e respaldadas para quantificarmos com precisão qual distância seria precisamente uma diástase. O que sabemos é que não é somente a distância determina a necessidade de tratamento, seja convencional ou cirúrgico, então talvez qualquer separação possa ser denominada diástase.
A involução do útero (após o parto) geralmente termina em cerca de catorze dias, mas os músculos abdominais podem levar seis semanas para retornar ao estado pré-gestacional e seis meses até que a força total retorne (Thomson et al, 1994).
Estudos constataram que a diástase do reto abdominal pode afetar entre 30% e 100% das gestantes (Boissonnault e Blaschak, 1988; E que pode permanecer em 35% a 60% das mulheres no pós-parto imediato. (Mota et al., 2015)
Caso a puérpera, após 45 dias pós-parto, ainda apresente o abaulamento fusiforme (CONE) ou aquela “barriga de gestante”, precisamos atuar o quanto antes nessa recuperação.
Uma separação de mais de 2 cm em um ou mais pontos da linha alba, incluindo o nível do umbigo ou posicionada 4,5 cm acima ou abaixo. Ainda pode ser definida como uma protuberância visível na linha média que aparece aos esforços. Pode ocorrer em ambos os sexos, independente de ter havido gestações. A DRA é considerada patológica quando a medida da distância entre o reto abdominal (DIR) ultrapassa 2,5 a 2,7 cm de largura e a sua gravidade ser classificada em LEVE (2,5-3,4 cm), MODERADA (3,5 a 4,9 cm) e GRAVE (5-20 cm ou maior).
Em um estudo ultrassonográfico mais recente, sugerem que, em mulheres nulíparas, a linhagem alba deve ser considerada “normal” quando a largura da DIR é menor que 15 mm, no nível xifóide, 22 mm a 3 cm acima do umbigo. e 16 mm a 2 cm abaixo do umbigo (Beer et al; 2009);
Porque tratar a Diástase?
A DRA causa grandes complicações de saúde, como a ocorrência de dor lombar persistente nas mulheres no pós-parto. Segundo uma estimativa, 25% das mulheres relatam persistência de LBPP (dor lombar pélvica) seis meses após o parto.
Para muitas puérperas, a diástase dos retos abdominais não é um problema de saúde que se resolve espontaneamente e pode até durar por muitos anos. DRA e fraqueza muscular do assoalho pélvico estão conectados: Pesquisas mostram a relação entre DRA e incontinência urinária de esforço, incontinência fecal e prolapso de órgãos pélvicos. FONTE THABET
A estabilidade do nosso corpo é formado por um verdadeiro “cilindro” formado superiormente pelo diafragma; inferiormente pelo assoalho pélvico e ao redor, os músculos transverso do abdomen e paravertebrais; e mais superficialmente, os oblíquos interno e externo e reto abdominais. Quando os reto abdominais não estão mais ligados um ao outro na linha alba, eles não se contraem de forma eficiente e a pressão intra abdominal fica sem o devido controle muscular.
Conclusão:
A mãe sofre, não é mesmo? Brincadeiras à parte: O processo do puerpério é muito mais complexo do que poderíamos imaginar. A verdade é: independente de classificações, termos técnicos e tudo mais, o pós-parto gera na mulher mudanças para vida toda. E por isso que o PROGRAMA GRAVIDEZ ATIVA vai intensificar os cuidados com a saúde da mulher, muito além da gravidez, através do MÉTODO RPP.
No próximo post vou apresentar para vocês o protocolo que será realizado. Até lá!!
André Lima
Criador do Programa Gravidez Ativa